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Poesias e Crônicas

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Se vê, mas não se enxerga


Fica o sorriso encoberto pelo pano de fundo
da miséria e do descaso

Se vê, mas não se enxerga...
No rosto sofrido da velha senhora.
Um sorriso amarelo, mescla de vergoha e dor.
A vida não vale um tostão, uma esmola.
Mão magras, osso, pele, pó e suor.
Mãos que acenam, só acenam.


Ao fundo se ouve o facão sertanejo.
Que singra o ar e derruba o cactos, alimento escasso.
A cada golpe de facão que retumba a caatinga.
O silêncio da morte que vem passo a passo.
E as mãos acenam, só acenam.


Uma criança esquelética que "suga" sua mãe.
Um resquício de vida nas tetas mirradas e murchas.
Um filho, uma filha, um fio de navalha.
Não chora, só soluça, não é pão, é migalha.
E as mãos acenam, só acenam.

A tudo se vê, mas talvez não se enxergue.
A chafurdação de um país sorridente.
Que sorri por vergonha de não saber lutar.
Então nos resta sambar, "samba aí minha gente".
A tudo se vê, só se ve, mas não se exerga.


Homens modernos, em ternos, elegantes e altivos.
Homens patéticos, em trapos e humilhados.
Uns no palanque, promessas e donativos.
Outros na rua, com fome, calados.
E a tudo se vê, só se vê, mas não se enxerga.

Ó patria amada, idalatrada, morre, morre.
Pois teu povo aceita inerte o seu destino.
Importa mais o gol, a bunda e a novela.
Importa menos, no sinal, um perigoso menino.
E a tudo se vê, só, se vê, mas não se enxerga.


E as mãos? A sim as mãos, elas acenam, só acenam.


Um comentário:

  1. Não sei se foi escrita na data acima, mas de certa forma descreve a tristeza e a submissão culminadas nessa exata data triste, mas feliz de início de mudanças e libertação...

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